sábado, 13 de junho de 2015

CERVEJA , VINHO e o "MENU" DOS FARAÓS - Jarbas Vilela





"A cerveja era a bebida nacional egípcia"
PIERRE MONTET  -  "Vie  Privé" ).





Estatueta de cervejeira egípcia.
-  Museu do Louvre -




Nada menos que 2.000 cântaros foram postos  no túmulo de  HEMAKA, vizir de  DEN SEMPTI  da I Dinastia, para matar sua sede no outro mundo.



As paredes das tumbas do inicio da V Dinastia ( 2.500 aC.)  falam da  CERVEJA  e os relatórios de uma  comissão do Museu Metropolitano de Nova Iorque, de acordo com desenhos e estatuetas descobertos nas ruínas de El Lisht, em 1933, nos informam que a bebida predileta dos egípcios, amplamente difundida já na VI Dinastia, era a cerveja.



Mercenário sírio, com sua esposa egípcia, bebendo cerveja através de um 'canudinho'.


As fábricas eram numerosas e importantes, como os moinhos e as padarias, dos quais eram dependentes.
Os mais altos personagens do reino se orgulhavam de possuir bem organizadas cervejarias em suas propriedades.


No túmulo do chanceler   MEKET-RE, figura de realce na corte de  HORO SANKHABTANI MENTUHOTEP  ( XI Dinastia)  estão minuciosas informações sobre a fábrica de cerveja de sua propriedade e o processo de trabalho nela adotado.


Preparando a cerveja  -  maquete egípcia.


Começam por triturar o trigo ou a cevada, conforme o tipo de cerveja desejado, em morteiros de pedra ; depois, passavam os grãos para tabuleiros, também de pedra, onde eram reduzidos a farinha usando rolos para macerar.
Mediante adição de água e fermento, faziam com ela uma massa que era distribuída em várias porções com um palmo de comprimento e 1/2 palmo de largura.
Em seguida era depositada numa vasilha de barro, em fogo brando, até começar a fermentar, abrindo bolhas.
Feito isso, era deixada com água suficiente em grandes jarros de boca larga, onde a dissolvia.
Durante muitos dias deixavam fermentar antes de passá-la para outros jarros,  'da Província de Kenya', de boca mais estreita e que pudessem ser bem fechados.



Uma cena reproduzida na tumba  (perto de Tebas)  de  SENET, esposa de  INTEFOKER  - vizir  do rei  SENUSERT I, mostra um menino faminto a pedir um pouco de compota fermentada a um cervejeiro. 
A resposta é grosseira e rude : 'Que te devore um hipopótamo, a ti e à mãe que te deu à luz.  Comes mais que um lavrador quando ara o campo para o rei.  Deixe-me ; não vês que interrompes meu trabalho ?








Tumba de NAKHT  -  pintura mural sobre colheita de uvas.


Além da cerveja, outra bebida preferida era o  VINHO, de uva,  "misturado com mel e suco de tâmaras ou romãs, em certas ocasiões".


Na capela de  NAKHT  ( túmulo nº 52 do Vale dos Reis ), sacerdotes de  AMEN e funcionários de  AMENHOTEP II   ( XVIII Dinastia ), uma pintura mural retrata uma vindima, cena por cena, da colheita da uva à espremedura e à conservação do mosto em jarras adequadas, de terracota,  dando-nos uma idéia bem clara de como os egípcios produziam o vinho. 
A uva era esmagada com os pés.





Mas o uso do vinho vai mais além dessa época.


40 cântaros estavam na tumba de  TUTANKHAMEN
A maioria estava tombado, pois foram colocados em suportes de madeira que se apodreceram e se despedaçaram em parte.  Os que restavam em pé, o vinho havia secado.
As inscrições dos lacres diziam: 
'Ano 9, vinho do sítio do rei TUTANKHAMEN, do Rio Ocidental'.



Os vinhos do Antigo Império parecem ter sido vermelho  (= tinto) e os do  Médio Império em diante, predominantemente branco.


O   'Vinho de Buto'   tornou-se particularmente reputado e invejável.  As vinhas e as adegas eram cuidadosamente inspecionadas em intervalos.
Por isso  os vinhos eram rotulados com a data,   o vinhedo   e   indicação da variedade.


"As mais conhecidas marcas eram
'Vinho de Meh'  (Pântano),
'Vinho de  Sunt',
'Vinho de Ham'  (Pescaria),
'Vinho de Sin'  (região de Pelusa), e outros"
PIERRE MONTET  -  "La Vie Quotidienne em Egypte au Temps des Ramsés" ).

'Excelente vinho da adega do Rei'  -  dizem as inscrições noutra série de potes.









PAPIRO ANASTASI   fala que o vinho é  'o brilho do sol', destinado a ativar a vida interior e clarear um pouco a vida diária.

O álcool bebido em excesso dava origem ao mal-estar  'tekhi'  (= embriaguez ).






"Quando os egípcios abastados realizam festins em suas casas, têm o hábito de fazer levar à sala, depois da refeição, um esquife contendo uma figura de madeira talhada com perfeição e muito bem pintada, representando um morto. 
Essa figura é exibida a cada um dos convivas, acompanhada desta advertência :  'Lança teus olhos sobre este homem.  Tu te parecerás com ele depois da morte.  Bebe pois, agora, e diverte-te'  "
HERÓDOTO  -  "História" - II, LXXVIII ).









A comida egípcia, como podemos ver pelos murais e nos túmulos onde se descobriram  mesas postas, era bastante variada.



Cozinhavam em casa e a cozinha era sempre separada da  "sala de jantar".





NUNCA  FALTAVA  CARNE


numa refeição dos egípcios.
Segundo  WHITE,  "havia uma qualidade de bois de chifres alongados, que era engordado para a matança".
G.MASPERO  contesta, dizendo que esse boi africano  -  'iua'  - era rebelde à domesticação, havendo os  'undju' , bois menores, sem córneos (ou curtos), usados para a engorda e abate.
Eles davam o nome de  'bresysa'  ao mais belo boi do curral ( P.MONTET -  obra citada).
As secções das patas trazeiras recebiam os nomes
'sut'  (= côxa),
'iua'  (= canela),
'inset'  (= pé).


Entre as carnes figurava as de
carneiro,
cabra,
gazela,
órix,
íbex,
'ro' 'terp'  (duas espécies mencionadas no PAPIRO HARRIS)
gansos,
pombos,
codornas,
garças  e
grous  (= 'djât' , 'âiu' , 'ga' PAPIRO HARRIS).

PORCO , animal consagrado ao deus SETH era impuro, não se comendo sua carne.




MUITOS  VEGETAIS  E  LEGUMES


entravam no "menu" :
feijão,
'hedju'  (= cebola  -inscrições do Antigo Império)
alho  (= chamado 'iaquet'  no  PAPIRO EBERS  e na   Lenda do Marinheiro Náufrago  /  chamado  'khizan'  no PAPIRO HARRIS )
lentilha,
ervilha,
cenoura,
espinafre,
alface,
rabanete,
abóbora,
fava,
nabo,
rábano.



AS  FRUTAS

mais apreciadas eram :
figos,
tâmaras,
maçãs,
romãs,
melão,
uva  e
amora.
"A romeira, oliveira e a macieira foram introduzidas no Egito pelos hiksos"  ( PIERRE MONTET - obra citada  ).
Bananas, cerejas, laranjas e peras eram desconhecidas.



OVOS  (= 'sekhet') eram abundantes.


LEITE  era uma verdadeira guloseima.  A nata era denominada  'smy', segundo os  PAPIROS HARRIS   e EBERS ).

Quanto aos  PEIXES   'bu' (= repugnante)  e  'chep'  (= desgostoso), guardavam certos receios em comê-los.



"Os habitantes de Elefantina e das vizinhanças não consideravam os  CROCODILOS  animais sagrados, não tendo nenhum escrúpulo em comê-los.  Ali também não lhes davam o nome  'miseh'.
Os  HIPOPÓTAMOS que ali encontramos, com o nome de  'papremito' , são sagrados e têm a mesma opinião sobre um peixe chamado  'lepidote'  e sobre a enguia.
Entre as  AVES  SAGRADAS , podemos citar a tadorna  [ = o 'smon' egípcio - ganso do Nilo /  ou  'chenalopex'  grega = ganso raposa ], a fênix e a íbis.
Os egípcios dão ao  PÃO de que se servem o nome de  'celestis'.  Fazem-no com  'dourah' "
HERÓDOTO  -  "História") 




TRIGO 
 


Havia duas variedades :  o  'boti'  (titricum spelta), trigo de qualidade inferior e o  'sut'  (trigo-candial), que produzia uma farinha muito alva.  Talvez o  'dourah'  se refira a esta espécie de trigo.
JOHN  MANCHIP  WHITE - "Ancient Egypt" - London,1952   -   qualifica ainda outros tipos deles :  "titricum aegilopoides" e  "titricum dicoccoides", também cultivados na Síria e Fenícia.  "O principal trigo cultivado no Antigo Egito, até a Era Cristã, era o denominado  'emmer' (= titricum dicoccum). Bread wheat  (= titricum vulgare) was apparently unknown".


CÉSARE CANTU -  "História Universal",  opina que  "nunca teriam comido trigo".  Segundo ele, o pão era feito com  'obyra' , uma espécie de centeio.



CEVADA  ( 'iôt' )


também era usada no fabrico de pães de  bolos, embora HERÓDOTO diga que eles consideravam infames os que comiam a cevada e o trigo  ("HISTÓRIA" - II,XXXVI).


Afirmam alguns historiadores que o  COQUEIRO era um luxo.




AZEITES  E  ÓLEOS 


"Os egípcios servem-se de um  óleo extraído do fruto do siliciprião e chamado 'kiki'.  Semeiam-no nas margens do rio e perto dos tanques.  Depois de colhidos, os frutos, de cheiro forte, são, uns triturados para a extração do óleo, e outros cozidos, recolhendo-se o líquido resultante do cozimento.
Esse óleo é espesso e utilizado nas candeias, com as mesmas vantagens do óleo de oliva, embora de cheiro ativo e desagradável"
( HERÓDOTO -  "História" - II, XCIV).



"Os  azeites e óleos  derivavam principalmente da árvore  'bak',  enquanto o  óleo de rícino era extraído para fins clínicos e para a iluminação"
( JOHN M.WHITE  -  "Everyday Live in Ancient Egypt" ).



"O Vale não era propício ao cultivo da oliveira, mas para usar em lugar deste, havia em abundância  óleo de mamona, de linhaça e de gergelim.  O azeite era um gênero de primeira necessidade e era com ele que cozinhavam, se limpavam e iluminavam as casas"
( PIERRE  MONTET - "La Vie Quotidienne em Égypte au Temps des Ramsés" ).



O egiptólogo  WALTER B.EMERY  e seu colaborador  ZAKI EFFONDI SAAD , em 22/12/1938,
"trouxeram a lume a tumba de um grande personagem da II Dinastia, cuja mesa de oferendas estava posta e uma refeição inteira servida em travessas e pratos de terracota.
O cardápio  compreendia
pombos assados,
codornizes e
rolinhas com molho  (usavam azeite, vinagre e  'bed' =sal),
legumes,
peixes,
uma costela de bezerro,
bolos redondos
e pequenos pães triangulares  'dou'"
KURT LANGE - "Pyramiden, Sphinxe, Pharaonen" ).



Tumba de NAKHT  -
  damas egípcias, elegantemente trajadas, sendo servidas por uma bela jovem seminua.




 

2 comentários:

  1. Parabéns pelo post. Utilíssimo!
    Fiquei feliz em encontrá-lo.

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  2. Parabéns pelo post. Utilíssimo!
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